Maldoso ou Estúpido?
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Indagada no debate na televisão sobre censura e a imprensa livre, a
candidata à presidência do Brasil—e, na sua carreira anterior, terrorista—Dilma
Roussef afirmou que apoiava a liberdade de expressão, mas que achava
conveniente manter debates sobre a questão.
O quê!? Conveniente debater sobre a liberdade de
expressão!? A liberdade de expressão é
garantida na constituição brasileira!
Assim, só podemos concluir que a doutrinação stalinista da Dilma se
mantém.
Concorrentemente,
o assessor ao Presidente Lula, Franklin Martins—sujeito medíocre egresso de
empresas da mídia—disse que, após as eleições, viriam “boas surpresas” para a
mídia.
Maldoso ou Estúpido I
Criado pela
Fox News—controlada pelo Rupert Murdoch, australiano naturalizado norte-americano,
com postura política da extrema direita (o termo correto bem poderá ser “neonazista”)—há
em curso um “debate” sobre o que a Fox News e seus seguidores chamam uma Mesquita
do Terror (“Terror Mosque”) a ser construída nas proximidades das duas torres
do World Trade Center que foram destruídas em 11 de setembro de 2001. Não importa que o projeto não seja de uma
mesquita e sim de um centro cultural que incluirá um lugar onde muçulmanos
podem orar. Não importa que esteja a dois
quarteirões do local das torres do World Trade Center.
Nos gritos demagógicos
transmitidos pela Fox News, há reclamações do financiamento da mesquita vindo
de uma organização saudita “terrorista”, cujo líder não é nomeado. E seria engraçado se não fosse trágico o
assalto na liberdade de expressão nos EUA: o líder do financiador da Mesquita
Terrorista é investidor de US$ 3 bilhões na News Corporation, dona da Fox
News!
Jon
Stewart, no seu inimitável The Daily Show
do dia 23 de agosto, apresentou uma exposição desta situação absurda. Seus “comentaristas” analisam os motivos que
impulsionam a Fox News a atacar um projeto financiado pelo próprio acionista da
News Corp. O comentarista com a camisa
Equipe Estúpida (“Team Stupid”) argumenta que seja estupidez; o comentarista
com a camisa Equipe Mal (“Team Evil”) alega que seja maldade. Quem assiste ao programa conclui que seja
maldade da Fox News que percebe o quanto são estúpidos seus tele-espectadores.
Veja http://www.thedailyshow.com/watch/mon-august-23-2010/the-parent-company-trap
Maldoso ou Estúpido II
O que leva
uma pessoa que se autodenomina “democrática” a procurar limitar a liberdade de
expressão? A desconfiar da imprensa
livre? Existem pelo menos dois conjuntos
de motivos:
- Sabe Que Tem Razão.
Quem tem a mais absoluta certeza de que tenha razão “sabe” que suas
políticas e opiniões são certas. Lógico:
qualquer opositor a tais políticas e opiniões está equivocado. Óbvio: a melhor coisa é a implantação das
políticas do Sabe Que Tem Razão. Então:
como tais políticas são certas, será melhor evitar que haja oposição a
elas. Conclusão: melhor impor censura para
que os equivocados não sejam ouvidos. É
a história das ditaduras.
- Safados.
Quem manda numa sociedade desfruta dos benefícios de ficar no topo da pirâmide. A liderança proporciona riqueza, prestígio e
vida boa. (Se tiver dúvidas quanto a
tais benefícios, pergunte ao Lula e sua família. Ou Fidel Castro e sua família. Ou Robert Mugabe e aos outros ditadores
africanos e suas famílias com quem Lula, assessorado pelo pensamento-limitado Celso
Amorim—este por sua vez assessorado brilhantemente por Marco Aurélio Garcia, o estereotipo
do stalinista fossilizado—gosta de se associar.) Obviamente: uma vez obtido o controle,
mantê-lo. Conclusão: melhor impor
censura para que os opositores aos mandantes não sejam ouvidos. É a história das ditaduras.
A história
documenta amplamente que os Sabem Que Têm Razão se transformam rapidamente em
Safados. Os maus exploram a estupidez
dos eleitores. Não há nenhum motivo de
achar que seja diferente no Brasil. Pelo
contrário.
Maldoso ou Estúpido III
Conhecemos
o histórico de eleições livres ganhas por pretendentes às ditaduras. No século passado Adolf Hitler se
destaca. Nos tempos mais recentes, na
América Latina, temos Hugo Chávez, arruinador da Venezuela. Será interessante ver os resultados das
eleições venezuelanas vindouras, já que a popularidade do Chávez—fruto da
catástrofe econômica e social no país, com energia elétrica escassa e violência
em níveis comparáveis com os do Iraque—indica fracasso nas urnas. Alguém ficará surpreso se houver fraude das
eleições?
No Brasil
as urnas são 100% eletrônicas, sem sistema de documentação e sem verificação
confiável. Precisamos confiar na boa
vontade dos administradores do sistema eleitoral para que os resultados não
sejam manipulados. Acabamos de receber ainda
mais notícias da invasão da privacidade de pessoas associadas com o PSDB por
pessoas na muito bem informatizada—como o sistema eleitoral—Receita Federal. Tal comportamento inescrupuloso e ilegal foi de
pessoas ligadas ao PT. Alguém ficará
surpreso se a Dilma ganhar no primeiro turno?
Maldoso ou Estúpido IV
Segue abaixo o excelentíssimo texto de Mac
Margolis publicado no dia 29 de agosto de 2010 no jornal O Estado de São Paulo.
O Estado de São Paulo —
Internacional
A Nova Roupagem da Esquerda Autoritária
por Mac Margolis
Domingo, 29 de
agosto de 2010Inspirados
em Cuba, líderes latinos ignoram conquistas democráticas e avançam contra a
imprensa livre, sob o discurso da “democratização dos meios de comunicação”.
Ao vencedor, uma viagem para Havana. Quem explica por que, no momento mais
democrático da história da América Latina, ainda resistem nos palácios tantos
impulsos autoritários em nome do povo?
Com exceção à ilhota de Cuba, sempre ela, a democracia constitucional é
o regime declarado do Rio Grande à Patagônia.
Ou melhor, 33 das 34 nações das Américas Central, do Sul e do Caribe
subscrevem, por princípio e lei, eleições abertas, justiça e parlamentos
independentes, e liberdades individuais e de imprensa. Já, na prática, a intimidação e a mordaça
correm soltas e a vítima é, quase sempre, a mesma sociedade pela qual o poder
oficial julga zelar.
Abusos existem, até nas democracias mais vibrantes,
mas os últimos tempos têm sido exemplares.
Tribunais tutelam a intimidade familiar, como na lei da palmada
brasileira (nascerá a delação premiada doméstica?). Governantes “cozinham” dados para ocultar
mazelas, como na maquiagem da inflação argentina ou na proibição aos jornais
venezuelanos de publicar fotografias do surto de criminalidade.
E, onde quer que seja, a mídia se vê obrigada a
defender-se dos arroubos de controle social, que é a censura com a plumagem do
politicamente correto (“democratização da informação”) com endosso de praticamente
todos os partidos de esquerda. Para
alguns, é o ranço autoritário herdado da época militar. Para outros, um cacoete cultural que data do
paternalismo colonial. Os piores casos
brotam do flanco mais instável da região — do presidente da Venezuela, Hugo
Chávez, e de sua aliança bolivariana, para quem apenas o direito de aplauso é
livre. Mas o reflexo autoritário não é
privilégio do socialismo do século 21.
Prospera onde quer que o inquilino do poder se imagine seu proprietário
e o xerife confunda sua pistola com a lei.
A prática parece talhada para a chacota da campanha política brasileira,
se a chacota política não fosse proibida, até a semana passada, também.
Que exista excessos de poder já é preocupante. Surpreendente mesmo é a condescendência oficial
e partidária que as agressões despertam pela vizinhança. No fundo, o controle social da mídia
franqueia a liberdade de expressão, cláusula pétrea do convívio republicano, a
grupelhos políticos, corporações e organizações não governamentais que ninguém
elegeu. Desde que ousaram criticar a
pesada taxação às exportações agrícolas imposta pelo governo argentino em 2008,
os jornais Clarin e La Nación sofrem restrições, censura
branca e bombardeio jurídico com o objetivo de dizimar seu lucro e poder. Na Venezuela, Chávez apaga um por um os
sinais dos canais de rádio e televisão que não seguem o roteiro bolivariano.
No entanto, com exceção da Colômbia e Chile, tachados
de neoliberais e fantoches dos gringos, poucas vozes latino-americanas
levantam-se contra o cerco à imprensa.
Foi unânime o endosso à patrulha social da mídia no último Foro de São
Paulo, instância maior de partidos e movimentos da esquerda da América Latina
que se reuniu em Buenos Aires no início do mês.
Explicito ou não, um pacto de não-agressão parece
reger a diplomacia dos países da América Latina. Assim, não é de bom tom chamar atenção às
violações de direitos humanos, à censura ou à perseguição da oposição política
em nações irmãs. Melhor lançar mão da
“natureza conciliadora do povo brasileiro” do que brandir o “dedo em riste”,
como escreveu recentemente o chanceler brasileiro, Celso Amorim. “Isolar quem se quer convencer ou dissuadir é
má estratégia.”
Resta saber quais são os resultados positivos desse
DNA conciliador. O presidente
colombiano, Juan Manuel Santos, dispensou a proposta do governo brasileiro para
mediar o contencioso entre Colômbia e Venezuela, que o presidente brasileiro,
Luiz Inácio Lula da Silva, minimizara como uma rixa pessoal. A recente libertação de mais de 30 presos
políticos cubanos teve a mão do Vaticano e do governo espanhol, e a coragem das
Damas de Branco — as filhas, mães e avós dos encarcerados cubanos que
desafiaram a repressão da ilha — mas ao que se saiba nenhum dedo brasileiro foi
posto na história.
Culpa de Fidel?
A Revolução Cubana pode ter entrado numa crise fatal, mas seu apelo é
perene. Se para boa parte do mundo ‘Che’
Guevara virou uma camiseta e Fidel Castro, um fantasma grisalho, a dupla
continua beata em muitos países da América.
A esquerda nunca deixou de enxergar essa ilha como uma espécie de
“Disneylândia ideológica”, onde fantasias de outrora sobrevivem numa
bolha. Cuba pode não ser mais o modelo
para os políticos das Américas, mas ainda goza da indulgência oficial e da
peregrinação de devotos, que continuam baforando o charuto da revolução alheia.
Para quem se sinta perplexo com esse consentimento
calado frente ao cerceamento da liberdade, o novo livro da cientista política
argentina Claudia Hilb é um achado. Silêncio, Cuba (Paz e Terra) é uma
pequena jóia que em cem páginas destrói a ideia de que a tirania, o sufoco, a
críticas e obediência cega que tomaram conta da Revolução Cubana foram desvios
de conduta ou sacrifícios infelizes na longa e gloriosa luta pela igualdade
social. Ao contrário, foram condição fundamental
para construir essa igualdade radical, obra de uma revolução que não reconhecia
diferenças nem direitos fora dos concedidos por ela. O silêncio também fala.